Cynthia Mariah

Artistas do Vestir
Afetos, Expressões e Reconhecimento

Na última quinta-feira, 20 de fevereiro, Carol Barreto e Hanayra Negreiros estiveram no Itaú Cultural encerrando e explicando sua curadoria na exposição Artistas do Vestir: Uma Costura dos Afetos. A mostra, que acontece amanhã, dia 23 de fevereiro, traz uma abordagem inovadora ao pensar a moda como uma linguagem de arte, e não apenas como figurino ou acessório. É uma exposição que aloca a moda no espaço que lhe é de direito: o de uma expressão do vestir e do compor modos de existência.
As curadoras nos conduziram por reflexões profundas, trouxeram quanto experimentamos em nossas corporeidades e elaboramos narrativas em por meio de nossas vestes, apontando a moda, em suas diversas vertentes, seja ela militante ou não, mas é sempre será um campo de criação e afeto. A exposição veio mostrando-se como uma deliberação artística, pensando quem vive no cotidiano do vestir como uma conexão de suas experiências e as relacionando afetivamente com os espaços de arte
Um ponto crucial levantado por Carol e Hanayra foi a precariedade do reconhecimento de mulheres pretas como Artistas do Vestir. Muitas delas, mesmo após décadas de trabalho e inovação, chegam aos 70 ou 80 anos sem se reconhecerem como artistas. Isso reflete não apenas a marginalização imposta pela sociedade-moda, mas também as significações de poder que determinam quem é legitimado como criador.
Podemos entender todas as burocracias e favoritismos existentes, e como elas mesmo nos trouxeram, nem todas as corporeidades estão presentes, assim como nem todas as trajetórias foram alinhavadas, porém abriram-se caminhos para novos encontros e provocações.
Um desses questionamentos é: por que mulheres pretas, que são verdadeiras griôs da moda, ainda estão fora desse reconhecimento? Um exemplo disso é Marisa Moura, nossa cardel, que mantém viva a memória dos saberes e fazeres ancestrais da moda afro-brasileira – não na sua forma servil, mas criativa, autônoma e inovadora.
A exposição Artistas do Vestir foi uma abertura necessária. Um passo para que nós, criadoras e fazedoras do vestir, possamos ocupar espaços que historicamente nos negaram. Que possamos continuar compondo nossas realidades artísticas com a força e o afeto que sempre nos sustentaram.
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